No dia 27 de abril, às 6 horas da manhã fui para Düsseldorf, primeira cidade alemã onde conheci e me apaixonei pelo Rio Reno.
Cheirinho de pão na estação de Düsseldorf. Mesmo assim entrei na Starbucks por duas únicas vezes em toda a viagem. Eu tinha muito mais a apreciar nas padarias alemãs do que na Starbucks, mas o fiz na esperança de ter acesso à internet gratuita. Porém não fui feliz nisso. Tudo bem. Em breve estaria no hotel.
Pedi informação ao senhor chinês que foi muito gentil e ligou para o hotel perguntando sobre o endereço. Estava ao nosso lado. Era uma rua bem próxima à estação.
Lição 4.:Aprendi nesta viagem que um chip de telefone nos deixa mais autônomos, mas a falta dele faz com que tenhamos contato com pessoas, e eu tive muita sorte em encontrar pessoas amáveis e de boa vontade.
Deixei a bagagem no hotel e fui andar pela cidade, pois só poderia entrar a partir das 14 horas. Nesse primeiro encontro já vi o Teatro de Óperas, Rhein Ophra; ao lado dele um lindo jardim com patos e lagos.
Andando um pouquinho mais, avistei uma ponte e depois o rio. Lá estava, calmo “Der Rhein”, lindo, cheio de histórias contadas e recontadas, como a lenda de Lorelei impressa nas paredes do Museu de Artes Históricas. Ali, naquele momento, processou-se um verdadeiro encantamento.
Eu ia ficar somente três dias em Düsseldorf e por causa do meu fascínio pelo rio, mas fiquei seis. Não sabia ainda que iria encontrá-lo novamente na última cidade da Alemanha que iria visitar, pois meu roteiro estava aberto a mudanças necessárias. E então eu o encontrei mais alegre, mais colorido, mais divertido em Köln, um mês e dez dias depois.
Nos primeiros dias fiquei em um hotel bom por menos de 40 euros de diária. Estava muito frio ainda para mim, pouco acostumada. 0-1 grau pela manhã subindo até no máximo 12 graus ao meio-dia.
29 de Abril de 2015
Pintei e escovei os cabelos. Fui assistir a primeira ópera: uma trilogia de Puccini, começando com Gianni Schichi, depois Soror Angélica e por último Il Tabarro. Adorei cada cena, e em especial a performance da soprano em “Mio Babino Caro”. Mas ainda estou me perguntando se esta ária encaixa mesmo no enredo de Gianni Schichi.
Fui a este espetáculo, e ao outro também, de tênis, em uma cidade que tem um perfil de cidade do interior, embora seja rica e moderna. No primeiro dia encontrei um senhor no hall do teatro que me vendeu seu ingresso excedente e conversou comigo durante todo o tempo de intervalo, deixando-me bastante à vontade mesmo usando tênis. Ele tinha uma visão do Brasil um pouco ruim, a empresa onde trabalhava tinha sido lesada por E. Batista e ele pensava que o Brasil tinha sido colonizado somente por presidiários, fato que usou para justificar o perfil desonesto, mas aproveitei para mostrar que ele estava equivocado, que há muitas pessoas honestas no Brasil, sendo que mais de 3% de origem alemã, inclusive E. Batista.
No intervalo da Ópera há salsichas, pão, cerveja ou champanhe servidas no bar, proporcionando um momento bastante agradável de festa.
A cidade é perfeita em segurança e bem estar. Lindas praças, espaços públicos ocupados por todos, e um local apropriado para ver o pôr-do-sol às margens do Reno. Sorvetes (italianos) gostosos, restaurantes, ruas cuidadas, flores e árvores por todos os lugares. Uma ótima cidade para morar e criar filhos.
Por ser véspera de feriado não havia mais vaga no hotel para permanecer por mais três noites, então tive que mudar para outro próximo daquele. Assim o fiz.
1º de Maio de 2015
Saí do hotel às 11:00 horas , era feriado em Düsseldorf como em todos os lugares.
Deixei a bagagem no hotel e aproveitei para ver aquelas lojas maravilhosas que evitei durante todos os dias em que passei ali.
Só poderia fazer check-in no outro hotel ás 15 horas. Estava muito frio, minhas mãos estão congelando.
Estava primeiramente sentada em um banco de frente para as lojas Prada, Bucherer e Bvlgari e de costas para a Versace e Hermes.
Não fui almoçar. Fui tomar um chá na Confiserie Heinemann. Uma confeitaria incrível que naquele momento serviu de abrigo. Não estava chovendo, mas não havia sol até o meio-dia e o vento frio soprando constantemente, gelava e ressecava a pele.
Depois do meio dia, Düsseldorf mudou totalmente. Chegaram muitas pessoas para o feriado e fim-de-semana; havia pessoas por todos os lados carregando suas malas de rodinhas indo em direção aos hotéis. Os restaurantes, cafés, ruas e avenida às margens do Reno estavam repletos de pessoas de todas as idades. O sol colaborou e se mostrou no começo da tarde, reduzindo o frio que marcou a manhã.
Havia música na rua, pessoas tocando diversos tipos de instrumentos; ouvi música clássica em violinos , mais adiante voz e violão tocando e cantando Forever Young, de Nashville. Ouvi Etude opus 10, nº3 de Chopin e me deixei ficar ali por algum tempo ouvindo e sentindo.
Andei na Rheinuffer, ao longo do Reno, que naquele momento estava repleta de pessoas sentadas ou caminhando. Os Plátanos mostravam pequenos brotos verdes anunciando a primavera. De onde eu estava, observava três pontes sobre o Reno. Pontes modernas. Atravessei por uma delas e fui para a outra margem. Ovelhas pastavam tranquilas.
Barcos de passeio lotados de passageiros iam de Düsseldorf para Köln; e havia também lanchas velozes e barcos de transporte de cargas.
Vi sair de um navio de cruzeiro, um grande número de idosos em cadeiras de rodas sendo empurradas por suas parceiras ou seus parceiros. Um desses idosos piscou para mim e isso fez com eu desse a ele meu melhor sorriso que ele retribuiu alegremente.
Por lá permaneci até o sol se pôr com toda a sua realeza.
Voltei devagar para o hotel, parando aqui e ali, e quando sentada à beira de um lago, escrevendo parte deste texto, patos mandarins se aproximaram e me olharam quase que perguntando: _ o que você tem para mim?
Já no outro hotel notei que não era tão bom quanto o anterior. Era menor. Mas estava bom para mim. Tinha cheiro, de que não sei, mas era ajeitado. Era noite e fiquei no hotel. Era Sexta-feira, a cidade em festa, ouvia música nos quartos ao lado. Em cada quarto muitas pessoas. Meninos e meninas misturados. Fazer o quê se este meu tempo já tinha passado. Não me atreveria a me juntar a eles, embora saiba que isso poderia acontecer caso eu fosse menos tímida.
E fui dormir cedo e acordar cedo e aproveitar o que tivesse melhor no próximo dia. Fui almoçar no outro lado da cidade. Atravessar novamente a ponte e comer aquela batata deliciosa com aquela carne de porco assada vertical, qualquer coisa que se assemelha a Donner-Kebab.
2 de Maio de 2015
Assisti Xerxes, uma grande produção. Uma incrível apresentação de “Ombra Mai Fu” e um efeito visual deslumbrante.
No segundo dia de ópera, era um sábado após o feriado, as pessoas estavam muito arrumadas. Eu cheguei em cima da hora, ninguém me viu antes do intervalo; por causa desse atraso, cheguei correndo quando o porteiro aguardava para fechar as portas. Fui então agraciada com um ticket gratuito, que me custaria 20 euros. Fiquei feliz. Os tênis me proporcionaram uma economia de 20 euros para quem só podia gastar no geral 100 euros por dia incluindo tickets de trem, comida e hotel.
3 de Maio de 2015
Dia de ir embora de Düsseldorf em direção a Berlim.
Deixei o hotel e a bagagem e fui ver o Reno pela última vez. Fiquei sentada à sua beira pensando em nossos rios. Pensei em Itajaí. Quanto a aprender. Desde a exploração da área em torno, como o uso de transporte rápido através dos trens elétricos.
Enquanto ia para a Estação observava a cidade antiga, AltStadt, ainda marcada pela destruição causada pela guerra, mas com ruas largas e organizadas. É comum ver um edifício de arquitetura com estilo característico do começo do século, com alguma parte moderna acoplada, resultado do aproveitamento do que ficou preservado após os bombardeios.
Chegando à estação fui ladeada por muçulmanos de todas as idades e características em um manifesto contra o manifesto que havia ocorrido no início da semana, em que parte dos cidadãos pedia a proibição de entrada de muçulmanos islamitas, em virtude do atentado ocorrido em Paris, e uma outra parte protestava contra a manifestação. Tive que esperar o movimento se desfazer para poder caminhar até a estação.
Fui em trem ICE, 1ª classe, isso aconteceu somente esta vez por toda a minha viagem. Era a única opção naquele domingo dia 3 de maio. Fui para Berlim. Tive direito a jornal, água servida por um atencioso garçom. Um vagão com bancos ainda mais confortáveis, praticamente vazio. A manchete do jornal mostrava o nascimento da pequena herdeira do trono inglês, “Charlotte”. Aproveitei para praticar o alemão na leitura. Entendi apenas poucas palavras isoladas que dentro do contexto me permitiam adivinhar o conteúdo. Eu havia começado a estudar alemão há menos de de dois meses, isso é muito pouco para quem tem muita dificuldade com línguas estrangeiras. Mas vamos em frente, não desistirei.
BERLIN,
Cheguei à noite e o hotel era longe da estação de trem. Então precisei de um táxi e desta vez o taxista honesto não tentou me enganar como em Amsterdam e Bruxelas. Toda a Alemanha tem essa característica de honestidade do seu povo. Já eram muitos os itens que faziam admirar aquele país. Cidades limpas, organizadas, cheia de bosques, seguras, custo de vida menor em 50% ou menos ainda do que na Bélgica e Holanda.
Mas em 2015, 70 anos após o fim da segunda guerra mundial, Berlim chorava em outdoors, videos, cartazes por toda a cidade. Isso fez com que eu chorasse também em cada monumento, em cada pedaço do muro, em cada construção mutilada. E minha relação com a cidade tornou-se um pouco difícil. Será meu próximo relato.
