VIENA

15 de Maio de 2015

Depois do encantamento de Praga fui para Viena de trem e encontrei minha filha, que estava estudando na Universidade de Viena. Ela estava adoentada, com gripe, abatida e visivelmente triste.

Então fiquei dois dias em um hotel e fui,  no fim do domingo 17 de maio,  para o apartamento dela. Eu tinha antigripais na bagagem, que foram úteis na ocasião.

Quando cheguei à cidade de Strauss, na sexta-feira, no fim de tarde, esperavam-me na estação minha filha e uma amiga que veio visitá-la; uma amiga brasileira que estava estudando na Universidade de Innsbruck.

Ganhei  tempo e experiência com isso. Elas de imediato me derem um mapa do Metrô e fomos  ao hotel em que eu ficaria hospedada, para deixar a bagagem. Era longe da estação, mas o sistema de transporte é tão perfeito que o metrô atende a todas as regiões de Viena com rapidez e eficiência.

Voltamos para o Centro onde está a Stephansdom,  aquele linda catedral com telhado colorido. Fomos procurar um lugar interessante para jantar e enquanto procurávamos olhávamos atentamente para tudo.  Comemos Schnitzel com batatas, especialidade vienense que agradava a todas.

Após o jantar, fui para o hotel e elas para o apartamento onde minha filha estava morando, um local para estudantes.

No dia seguinte, no sábado combinamos de nos encontrar em uma intersecção de linhas do metrô. Comprei meu passe para 24 horas na máquina e as encontrei em um ponto de encontro das linhas amarela e roxa.

Naquele sábado fomos ao Palácio e jardim Hofburg,  aos arredores do  Kunsthistorisches Museum, em uma linda Igreja às margens do Danúbio, Igreja de São Francisco de Assis. Em seguida almoçamos, fomos ao Stadion, um shopping Mall próximo ao Donau Marina, e fomos ao supermercado.

No fim do dia, minha filha e sua amiga voltaram para o apartamento e eu fui com elas para ver o endereço, pois iria para lá no dia seguinte. Na volta vi o pôr-do-sol no Rio Danúbio. Não voltei para o hotel ainda, fui ao Centro de Viena próximo a Stephansdom,  e andando um pouco mais, ao lado da Wiener StaatsOper,  cujo teatro estava lotado, foram colocadas cadeiras diante de uma grande tela de projeção, onde era possível assistir à opera Henrique VIII, que estava sendo encenada naquele momento no teatro. Havia uma chuva fina que a sombrinha era capaz de barrar. Então escolhi uma cadeira e sentei para assistir.

Depois voltei para o hotel.

17 de Maio de 2015

No dia seguinte de manhã, no domingo, fui encontrar as meninas na Stephansdom,  durante a missa. A missa era acompanhada pela Orquestra de Viena. Maravilhosa. Após a missa fomos ver a Peterkirche, e depois pegamos o Metrô e decidimos não almoçar, e  sim irmos ao Café Sacher experimentar a torta Sacher. E assim fizemos. Após fomos para o Prater, parque de diversões onde está a Wiener Riesenrad, a roda gigante de Viena entre outros brinquedos e guloseimas.

 Tiramos fotos, voltamos para área dos Museus, novamente decidimos não entrar,  pois haveria tempo durante a semana.

Domingo à noite fui do hotel para o apartamento. Teria de segunda a quinta-feira para explorar a cidade antes de irmos para Budapeste.

A primeira coisa que fiz na segunda-feira foi descer do metrô no Donau Marina e ir andando ao longo do Danúbio. Assim que iniciei a caminhada encontrei uma papoula solitária e depois mais três. A Ponte sobre o rio, moderna e brilhante, fez com que eu parasse para fotografar. Sentei  em um banco e fiquei ali ainda por algum tempo. Era o porto dos cruzeiros pelo Danúbio, que vinham da Alemanha, cruzavam a Áustria, iam para Eslováquia e depois para a Hungria.

Era a primeira vez que eu via o Danúbio. Não era azul, conforme Strauss denominou em sua valsa. Apesar da sua grande importância não me provocou a mesma paixão que o Reno me causou. Talvez por causa da cor verde do Reno, ou da sua energia. Eu não sei. Os rios me fascinam, assim como as pontes, mas o Reno causa mais que fascinação.

Continuei minha caminhada e cheguei na Trinitarierkirche zum Heiligen Franz vom Assisi e lá fui novamente, e lá rezei novamente. Vi os corvos que eu jurava eram meios corvos e meios pombos. Atravessei a ponte e fui para o lado dos grandes prédios de arquitetura ultramoderna. Entrei na estação do metrô e fui para o Centro, desta vez para o Volksgarten onde fiquei por algum tempo. Estava coberto de rosas de todas as cores. Almocei em um restaurante dentro do jardim e comi pela primeira vez Salsicha branca com batatas. Adorei.

Os Museus não abrem na segunda-feira e eu tentei depois por duas vezes ir ao Kunsthistorisches Museum e não o encontrei aberto. Pretendia ir apenas neste e no Belvedere. Fui ao Belvedere no dia seguinte, primeiro no jardim que muito me interessou com todas as plantas catalogadas assim como as suas muitas ervas medicinais. Depois  fui para o museu, principal e menor, e não imaginava o que eu ia encontrar lá, não sabia o impacto que me causaria e que, desde então, só penso em voltar.

Sim eu vi as lindas obras de Gustav Klimt! As mais lindas estavam lá com seu brilho dourado em sala escurecida. Fiquei lá por muito tempo, muito tempo, tanto tempo que descobri pela primeira vez um artista que não conhecia antes, que me chamou a atenção pela força daquele quadro chamado “ O Abraço” e olhei tanto que eu vi onde começava a influência de Klimt nas obras e onde elas terminavam; e vi os casarios em tons de terra, enfim ele se apresentava para mim. Era Egon Schiele com toda a sua ousadia. No ano seguinte fui à Ceski  Krumlov, na vizinha Republica Tcheca,  ver seu museu e a linda cidadezinha por ele pintada e perpetuada.

Os jardins do Palácio Belvedere também são lindos e convidam a ali ficar para refletir. Refletir é o que mais se faz em uma viagem do estilo da minha. Além da contemplação da beleza  abundante deste nosso planeta, contemplação esta que nos ensina a meditar naturalmente, há o prazer de ver e ouvir as obras dos artistas que por vezes passam por aqui tão rapidamente como Schiele e Schubert, que produziram tanto, em tão pouco tempo, como se soubessem que o tempo era curto para eles.

21 de Maio de 2015

Na manhã desse dia eu passei algumas horas no Parque da Cidade entre as estátuas de Strauss, Mozart, Schubert e Schindler, conversando com eles, em pensamento, sobre música,  é claro. Encontrei mais uns pares de papoulas de cor rosa salmão, diferentes e lindas. Estava me despedindo, mas não sabia que algo se reservava para mim naquela tarde. Seria o último dia de exploração antes de partir para Budapeste no dia seguinte. Depois de almoçar algo no Mc Donalds, desta vez para usar a internet pois naquele ano eu não tinha chip e ainda era difícil de encontrar conexão wi-fi; então eu ia e voltava em alguns pontos onde eu sabia que havia sinal e tomadas para carregar meu celular; os três lugares escolhidos estavam distantes um dos outros; eles eram o Mc Donalds no centro, o Shopping center Stadion e o Café Segafredo na Estação de Trem. Meu passe diário de metro que custava 16,50 euros me permitia essa movimentação constante; então eu fui na Peterkirche apenas para descansar, mas quando lá cheguei havia uma apresentação de uma soprano cantando as Ave Maria de diversos compositores acompanhada pelo órgão da igreja. Foi tão lindo, tão incrível, que eu recebi como se fosse um presente. Eu chorei. A acústica, o som celestial do órgão, a voz perfeita da soprano, era como se fosse algo realmente do céu e não da terra. Como ela estava acima de todos, no lugar destinado ao órgão, de frente para o altar,  não era vista, apenas soava vindo do alto daquela linda igreja católica barroca, eu poderia ter certeza que não eram terrenos aqueles angelicais instrumentos de cordas. Foi muito especial.

22 de Maio de 2015

Pegamos o trem para Budapeste. Trem lotado. Pequena cabine de segunda classe com mulheres e bagagens. O idioma tcheco entrava e não encontrava nenhum significado nos meus parâmetros cerebrais. As duas mulheres sentadas uma para a outra, que se percebia tratar de mãe e filha,  não pararam de falar um único minuto. O assunto era inesgotável e a vontade de entender uma palavra pelo menos durou até a chegada à Hungria e a nossa atenção se voltar para a estação de parada que não sei por qual motivo fomos aconselhadas a descer. Sim era a estação onde eu teria acesso ao metrô que me levaria ao apartamento em Peste, próximo à Erzbeth Bridge, sobre o rio Danúbio. Uma chuva fina e uma escada com muitos degraus nos esperava, minha grande mochila alemã e minha mala pareciam pesar o dobro naquela escada que parecia “stairway to heaven” sem trilha sonora. Mas chegamos lá e não foi tudo. O chip austríaco não funcionou em Budapeste e tínhamos que chegar ao apartamento até às 20:00 horas. Mas como solidariedade é um elementos que jamais faltou em toda a minha viagem, uma menina emprestou seu celular para que fizéssemos a chamada. E lá fomos nós de metrô até o endereço. Parecia tão fácil. Mas não foi. Não havia uma sequencia lógica de numeração na rua indicada. Mas uma vez a solidariedade se apresenta em forma de um gentil rapaz que ligou do seu celular, após tentar nos ajudar a encontrar a tal numeração, e que também não teve sucesso. Ligou então, e a locadora veio nos buscar e nos levou até o endereço que seria impossível encontrar. Mas o edifício antigo era muito interessante. E o apartamento era grande e confortável com tudo o que eu precisava para colocar minhas roupas e cabelos em ordem, e matar o desejo de tomar o meu café, o meu chá, comer muitas frutinhas, müsli e iogurte no café da manhã, enfim de ficar confortavelmente por cinco dias em Budapeste.

PRAGA

9 de maio de 2015

Não tirei os olhos da paisagem entre Dresden e Praga, viagem em trem lotado de um sábado. O Rio Vltava e suas margens coberta com grama nova de um verde novo, mostrava casinhas com chaminés fumegantes.

Ao ver a primeira ponte, a paisagem mudou e se descortinava algo que não tinha visto ainda.

Uma vez mais o motorista de táxi me cobrou bastante caro para me levar muito perto. Como estava sem internet, não tinha noção da distância entre a Estação de trem e o hotel. Não posso considerar isso como uma boa recepção, mas aconteceu em Amsterdã, em Bruxelas e agora em Praga. De certa maneira, serve para que se fique alerta.

O Hotel era uma daquelas casas antigas barrocas que foram reformadas, mas que ainda mantinha características do estilo na parte externa e interna. O restaurante ficava no subsolo com arcadas nas aberturas e o pé direito um pouco rebaixado. Pensar que os proprietários daquelas casas tiveram que abandoná-las e ir para outro país em busca de refúgio, fez voltar a sentir meus pés doerem um pouco.

O sinal de wi-fi  só era acessado na recepção, então passei bastante tempo neste lugar, o que fez com que eu convivesse com as pessoas.

Acordei  muito cedo no dia seguinte ansiosa para ir ver a cidade.

No primeiro dia caminhei devagar, meus pés não estavam totalmente curados ainda. Mas na terça-feira já pude explorar a cidade com mais agilidade.

É uma cidade lindíssima. A arquitetura apresenta diferentes estilos totalmente preservados. As diferentes cores dos edifícios barrocos dão um ar alegre à cidade que é tão linda que a mesma paisagem vista em diferentes horas do dia parece outro lugar com outros detalhes a serem observados. O Rio Vltava e as lindas pontes são um espetáculo especial, e a casa dançante em estilo moderno surpreende.

Fiquei seis dias e foram insuficientes e eu planejei voltar no ano seguinte para explorar mais e melhor.

Então a cidade encanta pela arquitetura, pela gastronomia e pela riqueza cultural. Na cidade velha, Staré Mesto, além do famoso Orloj, um relógio astronômico que é a maior atração do lugar, há o bairro Josefstadt com belíssimas e luxuosas casas que foram tomadas dos judeus, e que hoje são lojas de grandes marcas. Ainda na cidade velha, encontram-se o gueto, o cemitério judaico, a sinagoga, a casa onde nasceu Franz Kafka, assim com a estátua que caracteriza a obra “Carta ao Pai” , referente à carta escrita ao pai e nunca enviada, de mais de cem páginas, e que foi publicada após a morte do escritor.

O Museu de Franz Kafka está no bairro Mala Strana, na casa onde ele morou por um tempo, onde escreveu alguns de seus trabalhos e descreveu o que via de sua janela. Lá estão muitos documentos e cartas que mantém viva a memória do autor de “A Metamorfose” , um ícone da literatura pós-moderna, que deixou sua marca através da escrita melancólica, sendo considerado um dos escritores mais influentes do século XX.

Atravessando a Ponte Charles, com suas estátuas de santos,  segue-se para o Castelo de Praga, Hradcany, e ao lado deste a Linda Igreja Gótica de São Vito.

Em Nové Mesto (cidade nova) encontra-se o Teatro da Cidade, o mesmo teatro que estreou a ópera Don Giovanni, de Mozart.

É uma das cidades mais lindas que já vi, e o que eu não vi, por falta de tempo,  nesta viagem de 2015, voltei para ver no ano seguinte, quando lá passei mais dez dias. Fui então à Biblioteca Klementinun,  e vi os primeiros instrumentos de estudo astronômico; subi na torre de observação das estrelas e avistei Praga na altura de seus telhados. Vi que as cores harmoniosas e semelhantes das coberturas ocres, mostram o interesse pela beleza e o capricho mesmo naquilo que só se vê estando no alto. Revisitei restaurantes maravilhosos, comi pela segunda vez o melhor Goulasch servido no pão rústico recentemente assado no Restaurante Grego Katocombi (embora o prato seja de origem austro-húngara) e voltei a  outros restaurantes também com perfeitos cardápios, desde os sabores suaves dos aspargos com peixes às carnes com molhos fortes. E tomei mais uma vez a cerveja considerada a melhor do mundo. Enfim deixei-me envolver pelo clima da cidade na primavera que é festivo, com muita musica e apresentações públicas por todos os lugares que se passe.

Tive a oportunidade de ver a manutenção nos trilhos do trem, e observar o quanto novas eram as porcas e os parafusos e quanto preservados eram os trilhos daquele trecho que a minha atenção estava voltada.

Andei à pé e de metrô  e por fim fui de ônibus para Cesky Krumlov,  para ver o Museu de Egon Schiele e vi muito mais que isso. Uma linda e pequenina cidade, com 22 Km² e com o maior castelo da Republica Tcheca dominando a paisagem no seu ponto mais alto, com arquitetura de características gótica, renascentista e barroca, de onde se avista toda a cidade que é  abraçada pelo Rio Vltava e que provocou no artista, Schiele, a necessidade de pintá-la, resultando em vários quadros que convidam a conhecer este lugar que é patrimônio histórico mundial.

A viagem de ônibus de Praga à Cesky Krumlov foi outra deliciosa experiência visual. Ver os campos amarelos das plantações e as pequenas cidades, as paisagens encantadoras que fazem bem aos olhos e ao coração.

Voltando a 2015, lembro que no último dia, 15 de maio, eu fui ao Castelo de Praga, antes de embarcar, tomei um vinho quente, e sentei-me na praça em frente a Igreja, despedindo-me do lugar que eu pretendia voltar para ver e explorar mais, pois parecia ter sido  insuficiente.

Naquele dia eu iria para Viena e lá encontraria minha filha, após um mês viajando sozinha pela primeira vez.

BERLIN

 3 de Maio de 2015

Berlim não me encantou. Talvez por estar em um hotel muito longe das atrações, ou por eu estar em uma época onde se comemorava os 70 anos do fim da segunda guerra, ou ainda por eu ter enchido meus pés de bolhas de tanto caminhar a pé com um único tênis, pois mandei ,via correio, de volta para o Brasil,  roupas, livros e uma bota confortável que havia trazido, quando ainda estava em Brugges, para reduzir o peso da minha mochila. Não sei se algum ou todos estes itens me fizeram ficar meio deprimida em Berlim e chorar muito o tempo todo. Motivos não faltavam, a Igreja destruída Kaiser-Wilhelm- Gedächtniskirche; os Muros mantidos em vários lugares da cidade, o Memorial ao Holocausto, as fotos pelas principais ruas, os jovens jogados pelas ruas, dormindo na grama, dormindo na chuva, dormindo na calçada, meus pés machucados, a distância dos lugares interessantes, tudo isso me fizeram não gostar de Berlim. Só fui me sentir melhor no ônibus para Dresden, de onde pegaria o trem para Praga.

Uma linda e moderna cidade grande onde a solidão sem internet me pegou de jeito. As lembranças tristes associadas às bolhas nos meus pés me colocaram em uma gaiola onde eu não conseguia falar com ninguém por meios eletrônicos, nem baixar minhas fotos, nem enviá-las por e-mail, nem fazer operações bancárias. Reservar o hotel em Praga foi quase um milagre.

Lição 5: Reservar hotel perto da estação de trem.

Lição 6: Assegurar-se da qualidade do acesso à internet.

Lição 7: Comprar um chip de telefone local.

Fiquei por sete dias dos quais dois eu consegui ir aos principais pontos turísticos, um dia perdido em tentativas vãs de locomoção, e em outros dois eu fui de ônibus, repetindo os mesmos caminhos que remetiam à segunda guerra mundial, e mais dois dias curando minhas bolhas para a próxima aventura, almoçando e jantando nas proximidades, transferindo fotos da câmera para um pen-drive e levando roupas para a lavanderia. Não fiz o que eu gosto em uma cidade, fugir do trivial turístico e ver como a vida segue nestes lugares. Então ficou faltando uma parte. Mas ainda não incluí Berlin nos meus próximos roteiros.

Observação: entrei em uma loja para comprar um sapato confortável e o vendedor me aconselhou a comprar uns curativos que protegem e medicam os pés antes de comprar os sapatos. Deu o endereço da Apotheke mais próxima e não tentou me empurrar um sapato. Ele falou que não precisava de sapatos e sim de tratamento para assegurar a próxima viagem. Amei aquilo.

Os curativos são fantásticos. Não os encontramos por aqui.

Para finalizar minha passagem estranha por Berlin, comprei tickets de trem para Dresden e quando lá cheguei para pegar o trem, não havia trem disponível. O agente me levou até o local onde sairia um ônibus especial para Dresden. Muitas pessoas reclamaram e se opuseram, mas a maioria concordou. O fato inesperado era um show do ACDC em Dresden naquela noite e vieram pessoas de todos os lugares para a  big estação central de Berlin e de lá para Dresden.

9 de Maio de 2015

Mas foi muito boa a viagem de ônibus de Berlim para Dresden. Ao meu lado sentou-se um escocês que estava indo para o show. E eu estava insegura em falar meu inglês tupiniquim com um falante da língua inglesa. Até então tinha falado com indianos, alemães, belgas, etc. Estrangeiros falam mais devagar e se esforçam para nos entender. Então minha preocupação seria com falantes da língua inglesa, sem paciência e crítico. Mas não foi o que aconteceu, pelo contrário. Foi a primeira vez que me encontrava naquela situação. Mas conseguimos conversar por toda a viagem o que me causou alegria. Ele convidou para ir ao show. Tive muita vontade. Era um show épico. Mas teria que pegar o trem em Dresden para ir para Praga onde havia reservado um hotel. Ficar em Dresden significaria ter que deixar a bagagem na estação e encontrar um hotel em cima da hora. Então decidi seguir para Praga. O ônibus me deixou na estação Central de onde em seguida partiria o trem para Praga. Não fazia a menor ideia de toda a beleza que me esperava.

DÜSSELDORF

No dia 27 de abril, às 6 horas da manhã fui para Düsseldorf, primeira cidade alemã onde conheci e me apaixonei pelo Rio Reno.

Cheirinho de pão na estação de Düsseldorf. Mesmo assim entrei na Starbucks por duas únicas vezes em toda a viagem. Eu tinha muito mais a apreciar nas padarias alemãs do que na Starbucks, mas o fiz na esperança de ter acesso à internet gratuita. Porém não fui feliz nisso. Tudo bem. Em breve estaria no hotel.

Pedi informação ao senhor chinês que foi muito gentil e ligou para o hotel perguntando sobre o endereço. Estava ao nosso lado. Era uma rua bem próxima à estação.

Lição 4.:Aprendi nesta viagem que um chip de telefone nos deixa mais autônomos, mas a falta dele faz com que tenhamos contato com pessoas, e eu tive muita sorte em encontrar pessoas amáveis e de boa vontade.

Deixei a bagagem no hotel e fui andar pela cidade, pois só poderia entrar a partir das 14 horas. Nesse primeiro encontro já vi o Teatro de Óperas, Rhein Ophra; ao lado dele um lindo jardim com patos e lagos.

Andando um pouquinho mais, avistei uma ponte e depois o rio. Lá estava, calmo “Der Rhein”, lindo, cheio de histórias contadas e recontadas, como a lenda de Lorelei impressa nas paredes do Museu de Artes Históricas. Ali, naquele momento, processou-se um verdadeiro encantamento.

Eu ia ficar somente três dias em Düsseldorf e por causa do meu fascínio pelo rio, mas fiquei seis. Não sabia ainda que iria encontrá-lo novamente na última cidade da Alemanha que iria visitar, pois meu roteiro estava aberto a mudanças necessárias. E então eu o encontrei mais alegre, mais colorido, mais divertido em Köln, um mês e dez dias depois.

Nos primeiros dias fiquei em um hotel bom por menos de 40 euros de diária. Estava muito frio ainda para mim, pouco acostumada. 0-1 grau pela manhã subindo até no máximo 12 graus ao meio-dia.

29 de Abril de 2015

Pintei e escovei os cabelos. Fui assistir a primeira ópera: uma trilogia de Puccini, começando com Gianni Schichi, depois Soror Angélica e por último Il Tabarro. Adorei cada cena, e em especial a performance da soprano em “Mio Babino Caro”. Mas ainda estou me perguntando se esta ária encaixa mesmo no enredo de Gianni Schichi.

Fui a este espetáculo, e ao outro também, de tênis, em uma cidade que tem um perfil de cidade do interior, embora seja rica e moderna. No primeiro dia encontrei um senhor no hall do teatro que me vendeu seu ingresso excedente e conversou comigo durante todo o tempo de intervalo, deixando-me bastante à vontade mesmo usando tênis. Ele tinha uma visão do Brasil um pouco ruim, a empresa onde trabalhava tinha sido lesada por E. Batista e ele pensava que o Brasil tinha sido colonizado somente por presidiários, fato que usou para justificar o perfil desonesto, mas aproveitei para mostrar que ele estava equivocado, que há muitas pessoas honestas no Brasil, sendo que mais de 3% de origem alemã, inclusive E. Batista.

No intervalo da Ópera há salsichas, pão, cerveja ou champanhe servidas no bar, proporcionando um momento bastante agradável de festa.

A cidade é perfeita em segurança e bem estar. Lindas praças, espaços públicos ocupados por todos, e um local apropriado para ver o pôr-do-sol às margens do Reno. Sorvetes (italianos) gostosos, restaurantes, ruas cuidadas, flores e árvores por todos os lugares. Uma ótima cidade para morar e criar filhos. 

Por ser véspera de feriado não havia mais vaga no hotel para permanecer por mais três noites, então tive que mudar para outro próximo daquele. Assim o fiz.

1º de Maio de 2015

Saí do hotel às 11:00 horas , era feriado em Düsseldorf como em todos os lugares.

Deixei a bagagem no hotel e aproveitei para ver aquelas lojas maravilhosas que evitei durante todos os dias em que passei ali.

Só poderia fazer check-in no outro hotel ás 15 horas. Estava muito frio, minhas mãos estão congelando.

Estava primeiramente sentada em um banco de frente para as lojas Prada, Bucherer e Bvlgari e de costas para a Versace e Hermes.

Não fui almoçar. Fui tomar um chá na Confiserie Heinemann. Uma confeitaria incrível que naquele momento serviu de abrigo. Não estava chovendo, mas não havia sol até o meio-dia e o vento frio soprando constantemente, gelava e ressecava a pele.

Depois do meio dia, Düsseldorf mudou totalmente. Chegaram muitas pessoas para o feriado e fim-de-semana; havia pessoas por todos os lados carregando suas malas de rodinhas indo em direção aos hotéis. Os restaurantes, cafés, ruas e avenida às margens do Reno estavam repletos de pessoas de todas as idades. O sol colaborou e se mostrou no começo da tarde, reduzindo o frio que marcou a manhã.

Havia música na rua, pessoas tocando diversos tipos de instrumentos; ouvi música clássica em violinos , mais adiante voz e violão tocando e cantando Forever Young, de Nashville. Ouvi Etude opus 10, nº3 de Chopin e me deixei ficar ali por algum tempo ouvindo e sentindo.

Andei na Rheinuffer, ao longo do Reno, que naquele momento estava repleta de pessoas sentadas ou caminhando. Os Plátanos mostravam pequenos brotos verdes anunciando a primavera. De onde eu estava, observava três pontes sobre o Reno. Pontes modernas. Atravessei por uma delas e fui para a outra margem. Ovelhas pastavam tranquilas.

Barcos de passeio lotados de passageiros iam de Düsseldorf para Köln; e havia também lanchas velozes e barcos de transporte de cargas.

Vi sair de um navio de cruzeiro, um grande número de idosos em cadeiras de rodas sendo empurradas por suas parceiras ou seus parceiros. Um desses idosos piscou para mim e isso fez com  eu desse a ele meu melhor sorriso que ele retribuiu alegremente.

Por lá permaneci até o sol se pôr com toda a sua realeza.

Voltei devagar para o hotel, parando aqui e ali, e quando sentada à beira de um lago, escrevendo parte deste texto, patos mandarins se aproximaram e me olharam quase que perguntando: _ o que você tem para mim?

Já no outro hotel notei que não era tão bom quanto o anterior. Era menor. Mas estava bom para mim. Tinha cheiro, de que não sei, mas era ajeitado. Era noite e fiquei no hotel. Era Sexta-feira, a cidade em festa, ouvia música nos quartos ao lado. Em cada quarto muitas pessoas. Meninos e meninas misturados. Fazer o quê se este meu tempo já tinha passado. Não me atreveria a me juntar a eles, embora saiba que isso poderia acontecer caso eu fosse menos tímida.

E fui dormir cedo e acordar cedo e aproveitar o que tivesse melhor no próximo dia. Fui almoçar no outro lado da cidade. Atravessar novamente a ponte e comer aquela batata deliciosa com aquela carne de porco assada vertical, qualquer coisa que se assemelha a Donner-Kebab.

2 de Maio de 2015

Assisti Xerxes, uma grande produção. Uma incrível apresentação de “Ombra Mai Fu” e um efeito visual deslumbrante.

No segundo dia de ópera, era um sábado após o feriado, as pessoas estavam muito arrumadas. Eu cheguei em cima da hora, ninguém me viu antes do intervalo; por causa desse atraso, cheguei correndo quando o porteiro aguardava para fechar as portas. Fui então agraciada com um ticket gratuito, que me custaria 20 euros. Fiquei feliz. Os tênis me proporcionaram uma economia de 20 euros para quem só podia gastar no geral 100 euros por dia incluindo tickets de trem, comida e hotel.

3 de Maio de 2015

Dia de ir embora de Düsseldorf em direção a Berlim.

Deixei o hotel e a bagagem e fui ver o Reno pela última vez. Fiquei sentada à sua beira pensando em nossos rios. Pensei em Itajaí. Quanto a aprender. Desde a exploração da área em torno, como o uso de transporte rápido através dos trens elétricos.

Enquanto ia para a Estação observava a cidade antiga, AltStadt, ainda marcada pela destruição causada pela guerra, mas com ruas largas e organizadas. É comum ver um edifício de arquitetura com estilo característico do começo do século, com alguma parte moderna acoplada, resultado do aproveitamento do que ficou preservado após os bombardeios.

Chegando à estação fui ladeada por muçulmanos de todas as idades e características em um manifesto contra o manifesto que havia ocorrido no início da semana, em que parte dos cidadãos pedia a proibição de entrada de muçulmanos islamitas, em virtude do atentado ocorrido em Paris, e uma outra parte protestava contra a manifestação. Tive que esperar o movimento se desfazer para poder caminhar até a estação.

Fui em trem ICE, 1ª classe, isso aconteceu somente esta vez por toda a minha viagem. Era a única opção naquele domingo dia 3 de maio. Fui para Berlim. Tive direito a jornal, água servida por um atencioso garçom. Um vagão com bancos ainda mais confortáveis, praticamente vazio. A manchete do jornal mostrava o nascimento da pequena herdeira do trono inglês, “Charlotte”. Aproveitei para praticar o alemão na leitura. Entendi apenas poucas palavras isoladas que dentro do contexto me permitiam adivinhar o conteúdo. Eu havia começado a estudar alemão há menos de de dois meses, isso é muito pouco para quem tem muita dificuldade com línguas estrangeiras. Mas vamos em frente, não desistirei.

BERLIN,

Cheguei à noite e o hotel era longe da estação de trem. Então precisei de um táxi e desta vez o taxista honesto não tentou me enganar como em Amsterdam e Bruxelas. Toda a Alemanha tem essa característica de honestidade do seu povo. Já eram muitos os itens que faziam admirar aquele país. Cidades limpas, organizadas, cheia de bosques, seguras, custo de vida menor em 50% ou menos ainda do que na Bélgica e Holanda.

Mas em 2015, 70 anos após o fim da segunda guerra mundial, Berlim chorava em outdoors, videos, cartazes por toda a cidade. Isso fez com que eu chorasse também em cada monumento, em cada pedaço do muro, em cada construção mutilada. E minha relação com a cidade tornou-se um pouco difícil. Será meu próximo relato.