Minha Viagem Solitária para a Europa ou como tudo Começou.

Estes são relatos que incluem pensamentos, preparações, aflições, ansiedades, descobertas, realizações, alegria e mais alegria de ter colocado em prática algo que almejava há algum tempo: Minha Primeira Viagem Solitária para a Europa. Eles estão apresentados no tempo verbal da época em que foram escritos, seguindo o critério cronológico para que eu não alterasse as impressões daquele momento, mesmo quando elas foram equivocadas.

Janeiro de 2015.

1.

 Estou me preparando para uma viagem sozinha por alguns países da Europa. Vou com pouca bagagem, um mochilão,  para facilitar as muitas entradas e saídas nos trens. Esta preparação inclui vários itens de diferentes qualidades começando por pesquisas sobre custos, hospedagens e atrações até estudos dos idiomas, seguros, câmbios e bagagem adequada. Isso tem tomado bastante do meu tempo, mas tempo agora é uma riqueza que eu possuo, uma vez que estou em licença-prêmio em um momento de pré-aposentadoria. Sim. Aposentadoria após trinta anos trabalhando na área criminal. Resolvi então me premiar com uma viagem digna de ser chamada “Minha Primeira Viagem Solitária”. Uma viagem profunda em minha própria companhia. Sem luxo, sem compras, sem conforto, mas com paisagens incríveis, campos de flores, artes, castelos, histórias, realidade e encantamento.

Meu destino inicial é Amsterdam. Quero muito ver os campos de tulipas. Quero ver se sinto algo ao estar no país dos meus  antepassados. Tenho lido coisas relacionadas e terminei de ler o Diário de Anne Frank, mas estou sofrendo para terminar o filme disponível no YouTube, pois apesar da minha profissão, ainda sofro em demasia diante da maldade que só o ser humano é capaz.  

2.

Estou estudando a bagagem. Sim estudando. Preciso levar o mínimo possível para carregar nas costas. Este mínimo tem que ter tudo o que vou precisar em dois meses, considerando que poderá haver uma variação de temperatura de 6 a 26 graus Celsius. Para isso pesei todo o tipo de roupa que levaria e a escolha final será a partir do menor peso. Sei que com todo esse cuidado ainda estou sujeita a erro uma vez que o tempo pode surpreender e me mostrar neve em abril ( eu adoraria, pois nunca vi a neve) e não levarei roupas assim tão quentes pois estarei quase no terceiro mês da primavera. Roupas quentes são pesadas, terei que arriscar e botar fé na normalidade.

3.

Estou com dúvida sobre o melhor roteiro. Minhas certezas são Amsterdã e Bruxelas. Os demais destinos estão ainda em suspenso em razão de escolhas baseadas em viagens de trem somente em horários diurnos. Havia pensado em Bruxelas – Colônia – Berlim, mas talvez mude para Bruxelas -Frankfurt- Wurzburg, iniciando a Rota Romântica. Tenho que encaixar Viena, Salzburg, Praga, Budapeste e Berlim e se der Zurique e depois voltar para Amsterdã para o voo de volta para casa.

16 de Abril de 2015

Despedida com foto no  aeroporto. Cheia de alegria, entusiasmo e expectativa. Lá vou eu.

AMSTERDÃ

17 de Abril de 2015 – Aeroporto  “Schiphol”  Amsterdã, Holanda.

Errei feio na escolha da mochila e errei mais feio ainda em trazer um peso que não posso carregar.

Após longa viagem sem problemas, graças a Deus, com imigração em Lisboa, cheguei no Aeroporto de Amsterdã e percebi que eu não conseguia levantar a mochila para colocar nas costas. Não havia nenhum apoio para que eu pudesse suspendê-la e coloca-la nas costas. Carreguei pela alça os 15 Kg (ainda cometi o erro de trazer o guia e os dicionários) até a área externa do aeroporto. De imediato apareceu um rapaz perguntando se queria táxi. Eu disse  que sim e ele pegou a mochila e foi andando para longe do aeroporto, então eu mudei de ideia e disse que não queria, pois não se tratava de  táxi oficial e  eu fiquei insegura. Ele largou de imediato minha mochila. Por sorte havia um carrinho por perto. Peguei o táxi da fila que me deixou na frente do hotel sem ao menos levar a bagagem até a entrada que tinha uma escada. E depois desta escada havia mais dois andares em caracol.

Minhas costas doíam  e estirou um músculo da minha coxa direita.

Isso me deixou inquieta na busca de uma solução, não é possível deixar no “ locker”, não conheço ninguém aqui, não sei onde teria um carrinho para vender, pensei enquanto subia as escadas cujo nome fazia agora todo sentido. O correio talvez fosse uma solução se o preço fosse acessível.

No Fim das contas nem iniciei as viagens de trem e já quero desistir. Os hotéis são caros e sem conforto, eu pensava enquanto me espremia entre a cama e a parede do quarto.

Estou arrependida de ter vindo. Estou desanimada. Não tem Internet no meu quarto. Estou amedrontada. Preciso de consolo e de estímulo. Minha personalidade dramática encontrou o lugar certo para se manisfestar.

A solidão em um quarto pequeno, feio e caro é mais solitária, eu dizia para mim mesma enquanto ainda não havia olhado pela janela e ver o que me esperava.

Troquei de quarto no dia seguinte por um com banheiro. Melhorou um pouco.

O Hotel é uma linda casa com fachada medieval mas que fora modificada para que coubesse o maior numero de pessoas em suas acomodações. Situado em um rua super badalada de Amsterdam, perto de bares e restaurantes famosos, onde dia e noite há movimento de turistas alegres cujas risadas são ouvidas a qualquer hora em que se abra a janela. Mas eu fui dormir, pois o cansaço de muitas horas de viagem me venceu.

18 de Abril de 2015

Passei o dia andando pelas proximidades: fui até a “Dam”, tirei  fotos, fui no Market, e comprei,  em uma feira, um Quiche de alho poró e Croissants. Depois comprei “Florentines”. Primeiros novos sabores. Ensaiava o alemão aprendido nas aulas, mas o “dutch” escutado nas ruas entrava e saía dos meus ouvidos sem ser  decodificado.

In the afternoon, something unpleasant happened . A tall man followed me to offer drugs and sex. He was very scary. Fiquei muito assustada e mudei meu rumo para me livrar dele e me perdi, mas depois me achei. Enquanto perdida encontrei o Mercado de Flores.

Com o coração ainda acelerado, voltei para o Hotel e escrevi para Maria Izabel contando o que aconteceu e o que eu estava sentindo. Um misto de primeiras descobertas e um pouco de medo, pois foi a primeira vez que alguém me oferecia drogas e sexo como se oferece bala no semáforo.  Eu estava aterrorizada e confesso que chorei.

Fui até a Dam 26 para me informar sobre “Keukenhof Garden”, após  entrei na Basílica de Saint Nickolas,  rezei e Chorei um pouco. Sou dramática, lembram? Mas às  11:30 PM fui para o hotel e tudo passou.  A expectativa do dia seguinte enchia meu pensamento de flores antes mesmo de ter chegado ao jardim.

Todo e qualquer medo, desespero ou mau pensamento desapareceu no dia seguinte.

19 de Abril de 2015

Fui ao Keukenhof Garden ver as tulipas. Não somente Tulipas, mas também Jacintos, Narcisos, e todas as mais lindas flores. Eu estava no  paraíso. Tanta beleza, os cheiros e  as cores dos jardins e bosques. Tudo o que eu gosto  muito.  No caminho da viagem de ônibus, as plantações mostravam listras simétricas coloridas, de rosa, roxo, amarelo, carmim, pareciam não findar. No Bosque, andei  por 4 horas entre flores maravilhosas. Embora Sozinha, eu estava feliz e plena e totalmente acompanhada pelas criaturas mais lindas da Terra, as do reino vegetal.  O Paraíso deve ser um lugar assim: lagos, flores, árvores pássaros e pessoas sorridentes, felizes, que flutuam e me pedem para bater suas fotos e eu com um sorriso nos lábios faço o meu melhor. Bati Foto de um Casal de alemães Idosos,  de Meninas coreanas, e de outras muitas pessoas que estavam em pares. Aproveitei e falei uma frase em alemão, para ver se seria entendida, com um casal que sentou-se próximo da minha mesa, enquanto eu tomava um café

Voltei confiante e no mesmo dia comprei uma mala de rodinhas.  Enfim a aflição da Bagagem   estava resolvida.

Liçâo 1: A Bagagem é um item muito importante da viagem. Convém conhecer suas limitações e fazer a melhor escolha. Quanto mais leve for, mas liberdade para deslocamentos, quaisquer que sejam os meios de transporte.

Por causa da bagagem gastei 65 Euros (mais 10, que o taxista simplesmente adicionou por sua própria vontade), quando eu gastaria apenas 5,50 Euros em uma viagem rápida e tranquila de trem, cuja estação central estava bem próxima do Hotel que eu ficaria.

Dividi a Bagagem entre a mala e a Mochila e deixei a mochila em condições de ser carregada.

Neste dia, ainda, fui  a três Pubs nas proximidades quando conversei com algumas pessoas , vindas dos Estados Unidos (Chicago), da Eslovênia, do Canadá e do México. Valeu por Isso e mais uns goles de Vodka e três  doses de Stänhegger.

20 de Abril de 2015

Peguei o Tram (Bonde)  Número 5 e fui  para a Praça dos Museus ( Museumplein).  É uma praça com  grandes Museus de grandes artistas: Rembrandt, Van Gogh e Vermeer. Consegui Apenas ver Rembrandt naquele dia. Por causa do tamanho das filas. Não é um dos meus favoritos, mas sempre fico impactada diante de tanta perfeição em retratar pessoas e suas expressões. Mas depois, no fim da viagem voltaria a Amsterdam e veria Van Gogh, imperdível.

Almocei no Restaurante do museu: Ich habe kaltes Fleisch aus Holland mit Gemüse gegessen  und ich habe Heineken getrunken.  Continuava treinando meu alemão iniciante.

Aproveitei que estava naquele agradável praça, cheia de pessoas em volta do “I’ Amsterdam” e fui a uma Ótica, próxima dali, tentar consertar meus óculos de sol quebrados. Não havia conserto, então comprei novas armações que coubessem minhas lentes especiais, embora elas estivessem riscadas e engorduradas. Os óculos ficariam prontos em duas horas, tempo este que passei em frente ao Rijksmuseum. Naquele dia o lago artificial, em frente ao museu, ostentava os mais lindos vasos com Tulipas de todas as cores e combinação de cores. Sentei em um banco e um adorável homem holandês, cujo nome não registrei,  sentou-se ao meu lado e conversamos muito, em inglês. As horas voaram e eu estava muito feliz por estar me comunicando em outro idioma.

Com o caso dos óculos solucionado voltei de Tram para a Estação de Trem, comprei tickets na máquina para Brugges, passei no McDonald’s comi um Mc Chicken e  voltei para o Hotel para arrumar a bagagem.

Lição 2: Quem precisa de óculos com lentes especiais, precisa levar pelos menos dois deles.

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